Os lúcidos seguidores

27 de mar. de 2020

Quarentena



Estou a tanto tempo deitada, que mal sinto meu corpo, e deitei para passar o tempo e sem querer passou a vida, a rua está deserta, sem pessoas, até sem cachorros, a rua não fala mais, a casa está silenciosa, uma ou outra pessoa fala, mas é coisa rara. Estou na cama, vendo o teto branco, está um pouco quente, nada demais, por sorte, antes de me deitar, liguei o ventilador, o notebook está com a tela congelada no meio do filme que eu assistia, os textos incompletos estão por cima da mesa, jogados. A sensação de calma penetra meu corpo, respiro devagar, até entender que tudo isso vai demorar muito mais do que eu pensava, meu corpo estático insiste em ficar deitado, estou entediada, já contei todas as formigas que passaram pelo teto, já contei todas as manchas na parede, fiz o que pude, para me entreter. O que me agonia é o silêncio aterrador, nem os pássaros cantam. Nem um grito de mãe, nem um choro, nada. O silêncio penetra meu corpo, que também por protesto ou birra, faz silêncio. Nem defunto faz mais silêncio que o meu corpo agora. Meu deus, estou terrivelmente entediada.

8 de jul. de 2019

Novamente no quarto


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No quarto, novamente no quarto, ele que tanto me entende, ouço a música da sala, uma melodia agradável, ouço também os lábios se tocando, a televisão iluminando os corpos, diversas cores, a situação me deixa nostálgica. Meu corpo sossega na cama, se desmancha, escorre. O tempo me é ingrato, infelizmente. Ouço agora o barulho do ventilador, o vento que bate em minhas pernas, me limpa aos poucos. A solidão chega a passos lentos, quase em forma de sussurro, no meu ouvido ela diz, que a vida é um quebra-cabeça que sempre vai faltar uma peça.

27 de jun. de 2019

As rédeas soltas


Toda metamorfose é um mudança do íntimo, o íntimo selvagem, que corre solto, sem rédeas. E nessa ilusão de que temos algo, vamos seguindo o caminho traçado, correndo e correndo, seguindo a direção, mas não temos direção, não se engane, é tudo caminho marcado, por esse íntimo selvagem, por essa mata virgem, que nunca foi virgem. Tudo é metamorfose, e o íntimo é uma constante, que constantemente muda.

20 de jun. de 2019

O vazio do sofá



O vazio, tu acabaste de partir, te levaram, tu chorava tanto, chorava igual criança, criança pequena. Eu, desconsolada, fiquei sentada no sofá, com a mente vazia, apenas escutando. Coração apertado, amarrado, respiração curta, as lágrimas quase caindo, por dentro pedindo desculpa, mas é o que tinha que ser feito. Eu sei que fiz o certo, mas o certo me machucou tanto, sofro calada a maturidade que me foi dada, sofro pela idade. O sofá de duas pessoas só para uma é tão pequeno, já sinto falta.

15 de jun. de 2019

O quarto e a solidão


           Sozinha no quarto, a luz anil cobrindo tudo, a solidão tão quieta e tão gostosa, o silêncio do quarto e o barulho da cidade, o barulho das sirenes e dos carros tão distantes, aquela sensação maravilhosa do corpo decantando no leito, o cigarro aceso e o pensamento perdido. Aquela visão que eu vejo da janela, me é nostálgica, mesmo sendo a primeira vez que a vejo, a cidade se decompondo e eu em lugar privilegiado vendo tudo, todos, me decomponho também. Acabo o cigarro e fico a pensar, sem roupa, sem companhia. Acendo outro cigarro e aproveito cada segundo, sem pressa, apenas ouvindo o barulho da cidade.

24 de nov. de 2014

Eu li e aconselho - O Chamado do cuco (Robert Galbraith)


            Tenho que assumir que quando a J.K. Rowling escreveu seu primeiro livro depois de Harry Potter, foi algo que me deixou bastante decepcionado. O "Morte Súbita" desapontou muitos que ainda nem tinham esquecido a saga do bruxo adolescente.
            Isso mudou com "O chamado do Cuco". O livro é algo muito bem construído e envolvente, lhe prende do começo ao fim, ao contrário do seu anterior que eu já comentei, a história se baseia em um detetive falido e uma assistente inesperada. Cormoran Strike, tem uma perna amputada, foi combatente de guerra e esta praticamente falido, Robin sua assistente inesperada é uma secretária que veio de uma agência de trabalho e caiu lá por engano, ou como muitos diriam, por destino. Strike aceita o serviço praticamente por necessidade, enquanto nesse percurso a sua nova assistente lhe surpreende, mostrando que pode ser uma boa aliada para resolver esse caso, que dará visibilidade ao detetive particular e ex-combatente. Para quem gosta de romances policiais eu aconselho, vale cada centavo, ao contrário das histórias de Agatha Christie e do nosso famoso detetive particular, Sherlock Holmes, a história de Cormoran Strike é algo bem contemporâneo.
         É um bom livro, que realmente fez jus a escritora, não nego minha ansiedade para o segundo livro, "O Bicho de Seda".



30 de out. de 2014

A porta aberta


Nesses últimos meses, esvaziei várias garrafas de whisky, e eu nem sequer bebo algum tipo de líquido entorpecedor, mas esvaziei. Deixei a porta aberta ontem a noite, para que alguém entre, mesmo que seja um desconhecido, será bem-vindo em minha humilde residência. Esvaziei a geladeira, não que eu queira ser mal-educado, mas a comida esta muito cara e as bebidas são as minhas necessidades. Caso alguma criatura entre, que ela se sirva de sobremesa, que sente na poltrona e que aproveite aconchego de minha sala.

Agora todas as noites, minha porta estará aberta, mas suspeito que ninguém há de entrar, nenhuma pessoa suspeita que em uma porta desconhecida, haverá de ter algum prazer.

29 de out. de 2014

O Casamento (Un sacré Mariage) - Curta/Animação





Produzido por Gregory Verreault.
Como um acidente pode tornar uma cerimônia de casamento, normalmente tão cansativa, em algo bem mais legal!