Ela tinha
um corpo formado por marcas. Em um sábado a noite, sentada no sofá. Olho no
olho. Ele sentado no do outro lado da sala, bebendo o seu whisky. Bebia e ria
por dentro. Ela paralisada, apenas assistia o tédio. A raiva sorrateira a comia
pelos dedos dos pés. Que pés lindos. O whisky balança no copo esperando o seu
fim, no último gole a ser dado. Mulherzinha que nada podia fazer ou não queria. Dado o
gole final ela já se levantou, andou nos seus passos marcados, pegou o copo e
foi para a cozinha. Ele sempre brincou com ela, ela sempre aceitou todas as
brincadeiras de mal gosto. Olhando o copo de cristal encheu até o talo de
whisky e virou tudo. Nada como um pouco de álcool para dar coragem. Riu
silenciosamente.
Voltou da
cozinha, entregou o copo e sentou-se no sofá. Sorriu um sorriso discreto. Ele
logo em seguida se levantou e dirigiu-se a ela. No rosto dela se via
nitidamente o auto revelo. Ele se sentou e voltou a olhar para o rosto
dela, olhou para o copo, deu um gole, fez uma cara estranha e perguntou:
– O que você colocou aqui?
Ela se
levantou e andou, agora sem pressa. Pois o pé em seu peito e puxou a gravata.
Ele ficou espantado, mas não fez nada, queria ouvir o que ela tinha a dizer. O tempo parou e as palavras saiam em ritmo único.
- Coloquei
o meu veneno.
E o
empurrou. Caiu da pequena cadeira que o sustentava. Ainda antes de partir pode
ver por uns poucos segundos. Viu uma mulher sorrindo e deixando escorrer entre
os seus lábios o gozo do seu momento. O veneno.
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