Ela se dizia mulher, amava o seu marido e fazia todas suas
obrigações de esposa. Ao sentar na mesa, sempre fazia aquele sorriso de
margarina. Ao comer sempre elogiava o prato do dia. Quando o marido saia,
sempre dava um beijinho de despedida.
Sua vida era
quase um sonho. Quase. Quando ficava sozinha em casa, andava pelo corredor com
sua fisionomia séria, sentava no sofá e assistia a TV desligada, lavava o seu
rosto algumas vezes, alguns até diriam que ali se escondia lágrimas. Quando ela
ficava sozinha não tinha nem uma tarefa a cumprir e nenhuma imagem a passar.
Quando ela ficava sozinha, abria a sua caixinha de criança e tirava de dentro a
sua boneca. Com um laço na cabeça e a boneca na mão, sentava em sua antiga
cadeira de balanço que mal a cabia, e ficava ali a se balançar. A casa produzia
o um silêncio perturbador e a cadeira chiava. Pelo chão escorria, da pequena
cadeira de balanço, sentimentos que muitos desconheciam. Com a porta aberta que
dava para o corredor podia se ver, uma mulher e o seu velho laço, que a prendia
a um passado. Uma mulher que se fazia ser uma mulher. Uma criança perdida em
uma vida de adultos.
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