O velho
quarto continua o mesmo, já as memórias, se perderam no tempo vago em que
ausentei o meu corpo do meu leito, dias sem dormir. As paredes contem os mesmos
enigmas do passado, a janela sempre fechada, ainda deixa vazar a luz da noite
pelas suas frestas. Na mesa da escrivaninha os papeis vazios, choram por uma
poesia. Qualquer poesia que seja, até de um amor barato. Olho para as paredes e
em seguida para a porta. Começo a pensar sobre quantas pessoas adentraram no
meu intimo. Me senti sem privacidade, me senti invadido, nenhuma pessoa pediu
permissão para me ver por dentro. O meu eu que sou por fora, foi feito para ser
visto por outros, o de dentro eu não sei ainda para que serve. O vazio das
paredes e do cubículo em que durmo, me faz ter a sensação de ter o meu corpo
cheio, tão cheio que mais parece um vazio que tenta inflar e inflar, até
tocar o limite da minha carne. Abro a janela. Me debruço e olho para cima.
Nesse momento eu vejo o quanto eu estou transbordando. Não sou um vácuo. Não
sou aquilo que eu penso. Sou como o céu negro. Negro infinito, cheios de
mistérios.
Éramos dois, talvez um, na dança da vida, acabamos nos colidindo
e se fundindo então. Vivíamos no prazer do não. As paredes de concreto, era
um mundo incerto, separando o prazer, da minha visão. Na decadência do ser, me
vir se desfazer em partes, de um quebra cabeça. Meu coração se perdeu na
carência, o resto se perdeu na indecência, na cadência dos seus passos, fui
partindo, desse mundo aparte, para realidade que me destruía.